03/10/2012


O decidido na Portaria nº243/2012, de 10 de Agosto, e relembrado a 1 de Outubro no site do Gabinete de Avaliação Educacional – que os exames nacionais de Português (639), Matemática A (635), História A (623) e Desenho A (706), a realizar em 2013, incidirão sobre a matéria lecionada nos três anos de ensino secundário, e não apenas no último, como tem sido desde 2004 – foi uma notícia revoltante para os alunos do 11º ano, do 12º, e ainda para os professores que os têm vindo a preparar.
O que se encontra em questão não é a falta de vontade por parte dos alunos de trabalharem para um objetivo ao qual eles mesmo se propuseram – e muito menos dos professores de exercerem a profissão que escolheram. Aliás, a medida é realmente tomada como boa se implementada a partir do 10º ano (como o Ministério da Educação promulgou em relação a outras medidas, nomeadamente, à remoção do peso da nota atribuída à disciplina de Educação Física na média global do aluno), uma vez que os conteúdos lecionados são, de facto, importantes para o prosseguimento dos estudos ou até para o exercício de cargos relacionados com a respetiva área.
Todavia, não podemos esperar de um aluno que se encontra entre o secundário e o ensino superior que, em poucos meses, se prepare devida e extensivamente para um exame quando, subitamente, lhe exigem que estude o triplo da matéria com que contava de início. Mudar o foco dos exames quando os alunos se encontram já no 11º ou – mais grave ainda – no 12º ano é desvalorizar o trabalho de preparação que os professores realizaram com as suas turmas ao longo dos anos anteriores. É desvalorizar, também, o trabalho do próprio aluno, uma vez que não se pode esperar que os conteúdos assimilados dos anos anteriores sejam ainda tão extensos ao ponto de da sua avaliação depender o ingresso no ensino superior – sobretudo no que diz respeito à disciplina de História A. O aumento da carga de estudo nesta área é simplesmente atroz e não é possível pedir a um aluno (que vale lembrar que também é pessoa e se encontra, num ano tão fulcral como o 12º, diante de outras responsabilidades) que se prepare corretamente para o que terá de enfrentar no dia do exame.
Entendemos – ou melhor, subentendemos, já que nenhuma razão nos foi diretamente comunicada – que a medida tomada pretende fazer chegar aos estudantes que os conteúdos lecionados são para a vida e não para o mês. Contudo, exigir deles que estudem o equivalente a três anos de ensino em apenas um não é, de forma alguma, valorizar a consolidação de conhecimentos, mas sim promover uma memorização fácil e oca: a única solução possível para obter bons resultados com um espaço de tempo tão limitado.
Outro fator que pesa nesta decisão – e que, por tão flagrante, não devia ter sido ignorado – é a proliferação de bancos de livros escolares que se tem verificado nestes últimos anos letivos, em virtude da crise económica que atravessamos. Pensando que não necessitariam mais dos manuais escolares, um número tremendo de alunos terá doado já os livros que possuíam de anos anteriores aos bancos a que têm acesso, de modo a permitir que estudantes menos afortunados tenham a oportunidade que merecem de prosseguir a sua carreira académica. Negligenciar esta realidade é, até certo ponto, castigar a solidariedade social, pois irá provocar numa percentagem quase total de pais e filhos um arrependimento por uma ação altruísta e respeitável, que deve ser dinamizada e não censurada.
Quanto aos livros de preparação para exame que muitos alunos elegem para os auxiliar e guiar no seu estudo, basta apenas dizer que se tornaram, agora, incompletos e obsoletos, sendo que a sua publicação se deu, dificilmente, há mais de um mês. Obsoletos tornaram-se também os conhecimentos que os professores possuíam sobre a estrutura do exame para o qual preparavam as suas turmas – do que podemos concluir, facilmente, que a medida implementada causou uma desorientação geral que, muito provavelmente, se irá traduzir numa queda no aproveitamento escolar e, consequentemente, no ingresso ao ensino superior.
Concluímos, então, que a decisão tomada pecou por ser mal planeada, por ter as suas consequências mal medidas e, sobretudo, por se encontrar atrasada. A sua divulgação na fase que precede já os primeiros testes de avaliação do primeiro período é mais uma ponta solta num novelo que parece ter sido enrolado com demasiada urgência.
Há bastantes atributos que podemos relacionar a muitas das ações recentes do Ministério da Educação, contudo é difícil dizer que “coerência”, “eficiência” e “ponderação” têm feito parte da lista. A título de exemplo, lembro o quanto foi notória a confusão gerada com a colocação de professores no início deste mesmo ano letivo.
Se o lema do Ministério é “rigor e excelência”, será gratificante vê-lo aplicado ao próprio. E por favor, acrescentem “pontualidade”.

- Sofia Brito, 17 anos, aluna de Línguas e Humanidades, realizará exames a História A e Português em 2013