11/12/2009

Sei o quão imperfeito és,
Meu prédio amado,
Sei de cor as tuas falhas.
Se de sol o peito me enches,
Logo com vento me ralhas.

Sei, contudo, porque assim
O quiseste,
Sei a razão de todo o defeito:
Dá à nossa relação
Algo de mestre,
Traz humanidade ao teu jeito.

Vejo que o nosso tempo
Se esmorece.
Mas das mãos
Não me escapará.
Entre nós, o pôr-do-sol
Não acontece;
É um novo começo
Que se dá.

Nesta despedida desajeitada,
Fica meu breve adeus.
Não te devendo nada,
Muitos dos meus sucessos são teus.

Sei o quão bondoso és,
Meu amigo,
Sei de cor todo
O teu ser.
E se crescer me fizeste,
Te digo,
Muita mais vida
Verás florescer.

11/09/2009

Aurora Singela

Era uma vez
Um menino pequenino,
Na manjedoura estendido.

Levantou a mão,
Tocou no Céu.
E nem assim
O Homem
O reconheceu.

Uma mão cheia
De sonhos,
Uns olhos
Achocolatados
De esperança.
Uma voz
Engrandecida
Pela mudança.

Um coração imensurável,
Abarcando toda a criação.
Um menino pequenino,
Na manjedoura adormecido,
Capaz de iluminar a escuridão.

22/11/2009

"Na Natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma" - Lavoisier

   Num desses anos repletos de hormonas e dramas, aprendemos a interpretar esta lei de uma forma quase automática. É explicada sucintamente pelo professor, de um ponto de vista claro e objectivo, e, na maior parte das vezes, o significado mais abrangente é ignorado. Para mim, não chega a ser uma crença, mas um fenómeno irrefutável.
   Abrimos um livro de Química e é provável que, a dada altura, nos deparemos com este ensinamento. Existe um rol de gestos, palavras e expressões que fazem parte do nosso quotidiano e cujo verdadeiro valor descartamos facilmente. Assumindo que esta afirmação é olhada desse modo comodista, podemos descobrir nela um significado bem mais transcendente. Definimos a Natureza como tudo o que nos rodeia, seja físico, mental ou espiritual, e não só como a matéria envolvente, e conseguiremos destrancar numerosas portas, conforme a capacidade e experiência de cada um:
   - Se na própria Natureza, o que teria, supostamente, atingido o fim de vida útil modifica-se, sendo utilizado de outra forma, porque não exploraria o Homem uma maneira de o fazer também? E não é coerente que um objecto qualquer também necessite de ter essa abilidade mutante para ser ecológico? Portanto, admiro que alguém tenha sido capaz de atingir esta conclusão e de elaborar um plano para a pôr em acção. Lamento não ter sido mais cedo, porém desconheço se eu própria o acharia óbvio, caso não vivesse numa época de consciencialização ambiental.
   - Traduzindo esta filosofia para um nível mais pessoal, acredito que o ser humano, de um modo similar, se mantém, sob outra existência, após o fim tomado por certo. Transformamo-nos como tudo o resto, pois somos como tudo o resto. E se cremos que isto ocorre fisicamente, penso que não devemos rejeitar a possibilidade de aquilo que nos caracteriza realmente se manter, só porque não possuimos provas palpáveis ou visíveis. A nossa passagem pela Terra, pelos seres que nos acompanharam não se desvanece simplesmente, de mão dada com o nosso corpo. Somos relembrados além do fim físico e sermos esquecidos será, talvez, o maior castigo que podemos padecer. Saber que não fizemos diferença.
   Como já referi, com certeza, outros decifrarão o princípio de Lavoisier e descobrirão algo diferente. O necessário é abrir os olhos aquilo que deixamos escapar todos os dias e encontraremos muitas mais formas de sermos felizes.

04/11/2009

"Todos nós guardamos na lembrança episódios da nossa vida que nos fizeram felizes."

Mais uma vez, apresento a composição do meu mais recente teste de português, sendo o tema o referido acima. Deixo agora que as palavras falem por si :)

   Enroscada nos lençóis quentes e pesados, próprios do Inverno que já se insinuava nas noites geladas, pedia a minha amável mãe que me contasse uma história. "Ora, certa vez..." começava ela.
   Com os seues calorosos braços a envolverem-me, criava um fantástico conto improvisado, demonstrando a criatividade que sempre invejei. O seu entusiástico tom de voz prendia a minha atenção até ao momento em que, exaustos, os meus pequenos olhos cediam e se cerravam. E, com um sorriso inocente, adormecia.
   Fascinada com o hábito nocturno que, sorrateiramente, alimentava a minha imaginação, certa noite, pedi à minha contadora de histórias que invertessemos os papéis. Então, confiante da minha própria capacidade de criação, dei início a um incrível conto de princesas e bruxas, de guerreiros e dragões, surpreendida pela sinceridade que imprimia em cada palavra e inventando novos factores que cativassem a minha ouvinte.
   Lutava por me manter desperta, contudo, no meio de tanta emoção, as pesadas pálpebras levavam a melhor. E, com um sorriso inocente, adormecia.

19/10/09

19/09/2009

Inspirado na obra A Saga, de Sophia de Mello Breyner

Escrevi esta composição também para a aula de Português. A tarefa era elaborar uma das cartas que Hans, a personagem principal, mandou aos seus pais. Não creio que possa compreendida na sua íntegra, se o leitor não conhecer a história, portanto recomendo o livro Histórias da Terra e do Mar, para quem puder e o quiser ler.

Índico, 19 de Setembro de 1950

    Querida família,
    Perdoem-me por não ter escrito ultimamente. Os trabalhos têm sido múltiplos e duros e o tempo perde-se no ar, como um leve sussurro. Tenho-me esforçado por concretizar o meu sonho: regressar a casa como capitão de um navio. De facto, capitão já sou. Hoyle, o inglês que me acolheu, proporcionou-me uma óptima educação, da qual até o Pai se orgulharia, e fez-me capitão de navio e homem de negócios.Porém, é a segunda parte deste meu desejo que falho em realizar; a parte mais importante.
    Hoje, navego no Índico. Descobri os búzios mais belos, rosados e semi-translúcidos. Neles, escuta-se o pacífico silêncio do mar, aquele que se ouve no promontório. Embora esse silêncio traga até mim a alegria de casa, a alegria de ser amado, traz, também, a dor de lá não poder regressar, a saudade que me enche o coração dum silêncio que não é feliz, mas sim sofredor e angustiado, de tão frio e desprovido de amor. A minha única vitória seria poder regressar a casa. Daria tudo para retornar a Vig, retomar a minha antiga vida, outrora repleta de amor, esperança, sonhos...
    Peço-te, meu Pai, acolhe-me, mais uma vez, em tua casa, em nossa casa, e perdoa-me pelos meus pecados, pois não sou mais do que uma criança errante.

Cumprimentos saudosos,
Hans

Declaração Universal dos Direitos Humanos - a Liberdade

Escrevi esta composição num teste de Português. O tema era o Artigo 1 da Declaração Universal dos Direitos Humanos: "Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direito...". Mais tarde, durante a correcção, apercebi-me que o que escrevi não era bem o que era pedido, contudo, continuo a achar que foi das vezes em que me senti mais inspirada durante um teste :)

    Quando vimos ao mundo, todos somos livres, dignos e iguais, em termos de direitos. Se isto é verdade, como será que acabamos tão diferentes, indignos e impuros?
    No início da vida, temos todos os mesmos direitos. Nascemos com a dignidade intocada e com as almas livres. Contudo, a partir da idade em que começamos a tomar as nossas próprias decisões, temos a oportunidade de escolher os nossos caminhos e, muitas vezes, tomamos o errado. Talvez, porque aparentemente, é o mais fácil. Talvez porque é o mais rápido. Todavia, a verdade é que, com cada caminho errado, somos um pouco menos dignos e a nossa alma, um pouco menos livre. Caímos na armadilha da ambição, da ganância, e, quando reparamos, a nossa vida já não é nossa. Desistimos de muito pelos nossos sonhos e, o que realmente importa, fica perdido pelo caminho. É isto que temos de evitar. De acordar um dia e não sermos nós. E é por isso que tomar o caminho correcto é importante.
    É verdade que nascemos livres, e é livres que temos de nos manter. Os caminhos certos não significam apenas sermos uma boa pessoa; significam sermos uma pessoa - nós mesmos.
Pega no Teu cajado e guia-nos,
Tal como ovelhas que pastam
Nos montes infinitos do Teu amor.
Pega no Teu cajado e guia-nos,
Até que conheçamos
Os Teus montes de cor.

09/09/2009

I'm a child

I'm a child,
And I don't know
About economics
And politics.

I'm a child,
And I don't know
About money
Or the quick fix.

I'm a child,
And I don't realize
How often I spread
My wings and fly.

I fly away,
To a place
Where feelings
Aren't names.

I fly so high
That I forget
My own name.

And I don't try.
I'm myself,
Without regret or pain.

That's where I
Lost everything I had.
(Everything I
Ever had)
But I gained
The world instead.
7/09/09

06/09/2009

Sorriso - acto de benevolência

      Os teus perfeitos lábios encarnados rasgaram-se noutro sorriso sincero. Era como se o Mar Vermelho se dividisse, guiando-me pelo único caminho possível.
      Poria a mão no fogo pela veracidade desse sorriso. Sei que era sentido, porque também os teus olhos jorravam essa luz quente, que a minha própria chama acendia. E, assim, crescia em minha alma um sentimento forte e incontrolável. Uma vontade veemente de saltar, de correr, de gritar, de lutar... Uma vontade inabalável de viver!
      Quantos sorrisos já vi! Pensava mesmo que já os vira a todos: tortos, desdentados, amarelos... Apagados. Bamboleando-se, rua acima, rua abaixo, como se, algum dia, se pudessem destacar do meio hostil e austero em que, orgulhosos, se emproam. Até que, finalmente, encontrei uma nova estrela no firmamento. E tive medo de perdê-la. Todavia, sabia que, de tão enraizada em mim, jamais deixaria de presenciar o crepúsculo em que, confiante, se acendia lentamente, segura da ideia de transição, em oposição ao fim. Porém, também eu estava certa de algo: à menor sugestão do teu brilho, que reconheceria a uma eternidade de distância, nasceria em meu ser a força precisa para enfrentar quantas imitações fossem necessárias, apenas para poder mirar mais uma vez, nem que fosse a última, o teu esplendor singelo, que, sereno, borbulhava alegremente, fundindo-se, nesse momento, com a minha essência,
     Os teus perfeitos lábios encarnados rasgaram-se noutro sorriso sincero. Era como se o Mar Vermelho se dividisse, guiando-me pelo único caminho possível - a infância.
Eu sei que aqui Estás,
Quando o Vento passa,
Quando o Sol me guia
Por bons Caminhos.

Eu sei que aqui Estás,
Quando a Nuvem desliza,
Quando a Chuva cai
E purifica as Almas.

Eu sei que aqui Estás,
Quando o Rio que corre
Me mata a sede -
- A sede de Infinito.

Eu sei que aqui Estás,
Quando o meu Irmão
Me estende a Mão,
Em sinal de Paz.

4/06/09

Pequeno Dicionário

Uma palavra bela,
Outra singela,
Outra amarela.
Uma azul arroxeada,
Outra cor de nada.

São céu, sol e vida.
São estrelas que brilham
No meio da escuridão,
Formada por outras que são
Adeus e partida.

Correm como o rio
Sobre o monte,
Pela tua voz:
Coração como fonte,
Coração como foz.

Viagens longínquas,
Terras distantes,
Paragens afastadas,
Alcançadas em instantes.

Pedras da calçada,
Plumas de asa,
Madeira da jangada,
Tijolos de mina casa.

7/05/09

Conto de Esperança

Chega a luz doirada,
Calma e serenamente,
Como se nunca vacilasse,
Como se nunca fosse latente.

E, na verdade, nunca o é,
Pois, nos dias cinzentos,
Banha a maré,
Para além dos ventos.

E a alegria nunca se desvanece,
Porque, atrás do pano de nuvens,
A luz nunca desparece -
- Amanhece nos corações jovens.

Assim como "depois da tempestade,
Vem a bonança",
Depois dos tempos de dificuldade,
Brilha a esperança.

Sorri ao longe a certeza,
A força e a confiança.
Iluminada pela clareza,
A Vida nunca se cansa.

Depois do nada,
Vem o tudo;
Depois do escuro,
Vem o Mundo.

2/01/09
O Pôr-do-Sol chegou
Com o negrume solitário
A canção acabou,
Cala-se o rouxinol centenário.

E o silêncio profunfo,
Sem dizer nada, diz tudo:

Que a Luz,
Iluminando a Vida,
Traz aquela Felicidade indefinida,
Característica própria
Do que é verdadeiro.
E quanto atrás fica
A Alegria superficial
Da música do rouxinol!

Que a Escuridão não traz mais
Do que Tristeza
E Incerteza,
Sob a qual até os mais
Valentes vacilam.

Contudo, lá ao fundo,
A pairar sobre o oceano,
É a Lua,
Que te vê no seu plano
Omnisciente
E te protege, sorridente.

Com essa pequena luz,
Surge uma réstia de esperança
Que te ajuda a passar a noite,
Embora em ânsia,
Até ao romper do dia,
Acompanhado da alegre melodia,
Que quase se desvanecia
Na escuridão.

Então, entre a Lua e o Sol,
Sabes que estarás sempre guardado,
Desde que o teu rouxinol
Nunca fique totalmente calado.
Novembro - Dezembro 08

Crer é poder

Gostaria de poder voar,
Para os Céus alcançar.
Gostava de correr e vencer,
De lutar e ganhar.
Gostava de sobreviver
Aos desafios do dia-a-dia.
Sim, é algo que,
De facto, gostaria.

Gostava de chegar
Ao fim do Universo
E de gritar,
Sem nenhum complexo,
Que eu quero libertar
Tudo o que ficou preso.
O que foi suprimido
E nunca ouvido.

Gostava de ser mais
Do que o que sou,
De atingir o meu apogeu.
De mostrar ao mundo
Quem sou eu.

Gostava de demonstrar
Que todos somos iguais.
Gostava de tudo isto,
E de muito mais.
Mas, para o conseguir realizar,
Primeiro, tenho de acreditar.

18/10/08

Amizade

Caminhava eu,
De olhos fixos no chão,
Quando apareceste tu,
Minha salvação.

Eras filho
De outra nação,
Mas que me importava,
Se me salvaste
Da solidão?

Juntos,
Exploramos mundos,
Descobrimos os nossos tudos
E os nossos nadas.
Nadamos nas águas puras
Da infância,
Sempre com extrema ânsia
E ambição
De entender
O coração
E as razões do ser.

Passamos limites,
Ignoramos alvitres,
Atravessamos fronteiras,
Quebramos barreiras.

Aprendemos que o amor
Não existe só entre apaixonados
É o calor
Que se sente pelos amados.

Que amar amigos
É praticável.
Que tudo dar
Aos amigos
É inevitável.

E agora sei
Que, sem ti,
Não teria sobrevivido.
Tu és,
De verdade,
Meu Amigo

17/03/08

Deixa

Deixa,
Deixa o vento levar
O mais puro ar.
Trazê-lo para mim,
Para eu o respirar.

Deixa o vento levar
Os problemas, as preocupações,
O frio de todo os corações.
Deixa o vento levar a terra
Debaixo dos meus pés.
Levar-me à deriva através
De marés.
Levar os bens materiais,
Deixando apenas
As belezas essenciais.

Mas eu sei.
Eu sei que o vento
Nunca irá levar
O chão,
Nem o frio
Do meu coração.
Nunca estarei à deriva sem nada,
Sem qualquer bem.
E as pessoas não serão belas, também.

Mas, mesmo assim,
Deixa, deixa o vento levar
A realidade
Da minha imaginação
E deixar a simples ficção.


13/12/07