08/05/2010

Numa folha quase abandonada

Uma folha em branco,
pousada sobre a mesa,
como que abandonada.

Que lástima!

Que a folha receba, acolha as lágrimas.
E, mesmo depois delas secarem,
se deixe ficar sulcada pela sua memória,
guardando uma dor que nunca foi minha.

Que lástima!

Que a folha não guarde a felicidade.
Que apenas banhada pelo sol,
semi-translúcida,
se deixe atravessar pelo sorriso bondoso.

Que lástima!

Que, depois da luz, depois do sorriso,
depois da alegria e da felicidade,
só fique o branco.
O branco da paz.

Então, meu amigo, se vires a folha
pousada, quase abandonada, sobre a mesa,
não acredites no que vêem os teus olhos.

Pois a alegria foi grande, enorme,
universal.
E não coube na folha branca.

E, assim, o sorriso foi também
grande, enorme, universal,
para abarcar tamanha alegria.

Ou, talvez, fosse uma gota de água,
que, apesar de simples e pequena,
é indestrutível.
Ou, antes, mutável.
Que, apesar de simples e pequena,
é mundo, é vida, é tudo.
Talvez.

Por isso, meu amigo, se vires a folha
pousada, quase abandonada, sobre a mesa,
vê, com o teu coração, o branco que ficou,
depois de, iluminada pela luz do sol,
eu a ter usado
para ver, do outro lado,
o sorriso que é teu.