19/05/2011

Adormecer sobre uma cama d'água

Adormecer,
Como quem
Caminha em pés de lã
Sobre sonhos de
Algodão puro.

Adormecer,
Como quem
Saboreia o doce embalo
Da voz daquela
A quem mais amamos.

Adormecer,
Como quem
Voa em raios de prata,
Penetrando na
Escuridão cerrada.

Adormecer,
Como quem
Se deita sobre
Uma cama d'água,
Dando a tarde
Por acabada.

Inclusão Social

Inclusão social. Jovens. Assuntos relacionados?


Eu diria que sim, intimamente relacionados. Comecemos por lembrar que para se estar incluído e activo na sociedade contemporânea são necessárias uma cultura e formação sólidas. Trocando por miúdos, é preciso saber o que se passa, ponto final. E se, por um lado, há quem não o saiba porque está ocupado a tentar arranjar onde dormir e o que comer, também há quem se dê ao luxo de simplesmente não querer saber.

Geração “EU”, assim mesmo, com letras maiúsculas, a negrito e itálico, se for preciso. Mas, claro, os culpados, pobrezinhos, são sempre os pais. Já o eram quando censuravam, quando batiam de cinto, quando mandavam os filhos trabalhar sem nunca lhes dar um tostão. Mas, agora, uiiii, agora é que são elas! Culpadinhos, os pais; não há júri que não os mande para a forca. Bem, o que eu tenho a dizer é que ainda penso que cada um é – ou é suposto ser – pessoa por seu próprio mérito e honra. E talvez não seja tanto o colo dos pais o grande criminoso, como o é a inconsciência desta realidade. Ou seja, temos uma geração “EU” que, simultaneamente, não sabe ser ninguém sem ter alguém que o afirme. Ou alguém sobre quem se afirmar. Pouco complexo, não?

Pois é, a vida podia ser mais simples. Mas há muita preguiça. E acima de qualquer outra coisa, muito egocentrismo. Diga-se de passagem que o antropocentrismo também não tem resolvido grande coisa. Apesar de ter sido criado, segundo o meu ver, como uma forma de exortar o ser humano enquanto criatura boa, responsável e RACIONAL – assim mesmo, com letras maiúsculas, a negrito e itálico, se for preciso –, esta visão foi destorcida até se gerar e, pior, instalar (!) um antropocentrismo relativo, que deixa o destino do mundo à vontade de cada freguês, e salve-se quem puder, que eu já me safei. Há um desinteresse completo no outro, no que ele tem para dizer, na sua dignidade enquanto ser igual a nós. Repito, IGUAL a nós – a mim, a ti e a todos os outros. E deixemos de lado se é pobre, se é rico, ou qualquer um dos dois a fingir que é o outro. Se todos fôssemos verdadeiramente ouvidos – aliás, como a isso temos direito, enquanto irmãos (mas deixemos este assunto para outra altura, que ainda me processam por ser anti-laicista) –, e não imediatamente julgados, apreciados e rejeitados, talvez – apenas talvez – existissem menos famílias a viver acima das suas possibilidades; mais profissionais com gosto pelo seu emprego e sem medo de seguirem a sua verdadeira vocação; menos objectos, coisas e coisinhas; menos clausura; menos exclusão social! Menos crise! Acima de tudo, de valores – os quais, no fim de tudo, são a base mais sólida sobre a qual se pode construir uma sociedade.

Por isso, perdoem-me por não chamar “pobrezinho” a um jovem que se queixe do nosso país, e cuja única acção para construir o seu lugar neste mundo é ir a uma manifestação de mês a mês. Porque é disso que se trata: não de um emprego, mas de uma vida – algo que as pessoas parecem ter medo de assumir. Isto, porque uma vida não se resume a um salário no fim do mês. É preciso mais. É preciso criatividade e pro-actividade. É preciso vida!

E é preciso, acima de qualquer outra coisa, a instituição e verdadeira percepção do valor da dignidade humana. Seja aqui, seja na América, na Austrália ou na Líbia. Perceber que, talvez, a crise de Portugal não é a pior injustiça dos nossos dias. Perceber que há um mundo fora das nossas portas, dos nossos empregos, escolas e mentes. Perceber que há mais gente, mais pessoas iguais a nós mesmos, dentro e fora do país. É preciso que nos incluamos a nós próprios na sociedade, de forma activa e sempre disponível. E esta revolução deve começar nos jovens, nos que têm – ou deveriam ter – mais energia, novidade e vida. Nos que são o futuro.

Sem queixas ou culpas, porque, afinal, o barco é de nós todos.