este é o momento em que te deixo ir
pelo menos, é o que está escrito
no manual de como esquecer alguém
que se amou (e só percebi que havia um
depois de tantos conselhos
bem intencionados e mal
direcionados
que nunca tiveram bem exata
completamente
o efeito pretendido)
diz-se que este é o momento em que te deixo ir
e que já é tarde
que o mundo já girou vezes suficientes
desde a última vez em que nos vimos
diz-se que este é o momento em que
deixa de doer
e eu sigo em frente
e a juventude me há de salvar
(porque para um mundo obcecado
com a romantização do futuro
e desiludido com o passado
as rugas
os sulcos das cicatrizes deixadas pela experiência
é sempre a juventude que nos vale)
este é o momento em que me olho ao espelho
e reconheço que não valho menos do que quando
nos vimos pela primeira vez
(e quantas vezes já girou o mundo
desde então
quantas juventudes valeram
a amantes despedaçados)
este é o momento em que compreendo
que nunca foste tu a amar-me
mas deveria ter sido sempre
eu
a amar-me a mim mesma
em primeiro lugar
ama o próximo como a ti mesma –
– e talvez por isso não tenhas sentido
o quanto te amei
talvez por isso eu não tenha sentido
que me amaste
sequer
ou talvez tenha sido apenas porque
é verdade tu nunca me amaste
eu nunca to ouvi
e nunca fomos tudo aquilo que ficou
marcado teimosa e permanentemente
na parte de trás da minha nuca
sem esperança de lixívia
tempo
ou juventude
que lhe valha
não pensas em mim quando se fala
em amor ou paixão
ou até
custa-me dizê-lo
amizade
mas eu terei o meu terceiro dia
mês ou ano
e serei a primeira a pensar em
mim mesma
quando a vida nos aperta
as juntas
e nos sacode até
aos ossos
serei a primeira a pensar
em mim mesma
amar-me perdoar-me
terei um terceiro dia no qual
serás não mais ferida a sarar
mas antes sulco de
cicatriz
deixada pela experiência
e esse terceiro dia será
o momento em que me perdoo
por te deixar ficar
será o momento em que me perdoo
por não me ter amado
em primeiro lugar
será o momento em que me perdoo
por não me ter amado
em primeiro lugar
Tão bonito, Sofia!
ResponderEliminarOs teus últimos poemas fizeram-me regressar aos 20 anos...
Sou tentada a dizer-te para viveres os teus da forma mais intensa que conseguires mas ao ler-te, acho que não precisas desse conselho...
Beijinhos
Obrigada, Carla! Não sabes o que as tuas palavras significam para mim. Fico feliz por ver que o que consegui transmitir te tocou :)
EliminarEu bem tento, acredita! Infelizmente isso vem com coisas mais e menos positivas, mas é assim que a vida funciona, não é? Feita de contradição :)
Um beijinho grande e muitas saudades!