depois de todos os arrepios
de todas as mãos dadas
por baixo de mesas
como um segredo próprio
ou pelas ruas
com a liberdade de amar
depois de todos os olhares demorados
de todos os segundos suspensos
num sorriso partilhado
de todos os pontos da tua pele
que admirei e decorei
e não posso mais esquecer
depois de todos os dias em que
nos vimos e nos abraçamos
que nos fizemos companheiros
à descoberta de lugares
que fizemos nossos
depois de todas as canções
visões e paisagens
poemas ou filmes
memórias, emoções
que bordei com a agulha
que nos cega
sempre que se fala em amor
e mesmo depois
sim, meu amor,
mesmo depois
de todos os beijos
comungados
e da comunhão
em que nos submergimos
da primeira vez
e da última
em que dissemos
adeus
depois de todas as chuvas
e tempestades agrestes
e praias ventosas ou quentes
e dias de sol livres
e porque não
tantos todos os dias amenos
em que nos amamos
depois de todas as lágrimas
que não me adivinharam o dia
em que não poderia mais ficar
depois de todos os pontos
nos quais te escusaste
a amar-me
com o gosto da liberdade
(tanto que nunca cheguei a saber
se terias querido neste poema
meu amor
essa palavra que nunca te ouvi)
e mesmo
ah, sim, mesmo depois
de todos os outros poemas
que para ti forjei
com alegria e paixão e saudade
e amor
(sim, era amor)
depois de tudo aquilo
que já não sei se foi nosso
ou apenas roubado a dias
menos fortuitos
conta-me
explica-me
desenha-me
diz-me como hei de
te descoser
das malhas do futuro
que teci do teu lado
como hei de te arrancar
ao lugar de carinho onde
tão doce
tão apaixonada
tão ingenuamente
te deitei
como hei de me despir
de todo o amor que tive por ti
e vesti-lo exuberantemente
sem perdões
qual penugem de pavão
em mim
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