O tabuleiro está posto.
O relógio, a postos.
As mãos suam.
A mente calculista desperta.
Joga!
O peão primeiro –
- Os peões vão sempre primeiro.
São mortalhas dispensáveis,
Amparos para os que se seguirão
E que nem na morte ficam por cima.
E os que peões não são,
Muito se iludem.
Duram mais,
Comem mais,
Pensam-se mais estimados.
E por fim sucubem,
Como todos os outros.
Pretas, brancas –
- Os números são diferentes,
Os prejuízos, iguais:
Um tabuleiro devastado,
Uma valeta cheia,
Um rei protegido.
Joga!
Todos os reis foram feitos para ser mortos,
Menos o nosso.
Ele é a causa,
O fim que justifica
Todos os meios, e inícios, e fins dos dizimados.
E, oh, como os dizimamos…
E, oh, como fomos dizimados…
Mas a causa, a causa…!
Xeque!
E já a sinto…
Já a saboreio…
Sabe a sangue…
Vitória, vitória, vitória!
Um tabuleiro devastado,
Duas valetas cheias,
Um rei caído
E outro a salvo.
E eu a salvo.
Mas…
O que sobrou?
O que sobrou das peças caídas?
O que sobrou dos mortos?
Solidão.
Xeque-mate.