02/09/2010

Perfeição Utópica

  Recordo vivamente o meu professor de Educação Visual sentado à secretária, a acrescentar cores, linhas e sombras aos nossos trabalhos supostamente terminados. Entretanto, dizia: “para um artista, a obra nunca está acabada”.


  Na minha opinião, ele não podia estar mais certo. Seja qual for o artista e seja qual for a sua obra, há sempre algo a acrescentar, alterar, refazer… essencialmente, a aperfeiçoar. E, na verdade, não é o Homem um artista, cujo trabalho vital reside não na moda, nem na tecnologia, nem tão pouco na economia ou na política, mas sim em si mesmo?

  A nossa vida é um constante ajustamento e, acima de tudo, amadurecimento de ideias, sentimentos, comportamentos e princípios. Apesar de não ser sempre no sentido mais correcto, o nosso crescimento é permanente e inevitavelmente contínuo. É um trabalho perpétuo. Assim, com cada nova experiência, compreendemos e, mais, sentimos algo anteriormente inatingível. De tal forma que, quando observamos as nossas acções passadas, encontramos sempre actos que gostaríamos de mudar. Contudo, foram esses erros, por vezes, embaraçosos, juntamente com outras experiências mais felizes, que nos fizeram a pessoa que hoje somos e, se não nos podemos orgulhar de nós próprios, de que nos podemos orgulhar?

  Então, se a nossa vida é um perpétuo aperfeiçoamento, qual é o objectivo? Sabemos bem que perfeição não rima com Homem. Poderemos nós estar a desperdiçar o nosso tempo a correr em direcção a uma meta inalcançável? A uma utopia?

  Penso que não. Não chamo a esta perfeição, mas dou-lhe sim o nome de Deus. Para mim, Ele é o único portador de uma perfeição quente, luminosa e feliz, ao contrário daquela que os homens, por vezes, procuram e idealizam. Assim, diria que o objectivo é “procurar as coisas do Alto” (Cl 3, 1-4), agir por Deus e em Deus, não para nos salvarmos a nós próprios, mas sim para construirmos o Amor e melhorarmos o mundo.



Felizes os que se arrependem perante o Senhor! “Felizes os que cumprem os seus preceitos e O procuram com todo o coração”! (Sl 119, 2)

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