Que sou poeta
Sem palavras.
Que sou como ave
Que voa
Por sobrevivência,
Por instinto.
Mas mentiria.
Mentiria,
Porque conheço bem
O prazer secreto
Do bico da caneta,
Escorregando pelo azul
Da tinta,
A descrever as curvas
Do a, do g, do s.
A traçar os tês
E a pôr os pontos
Nos is.
E a minha mão,
Que corre com a caneta!
E a caneta,
Que parece já
Conhecer o caminho!
Como se as palavras
Já estivessem impressas,
E eu fosse apenas
Colori-las.
E a minha boca,
Que, no silêncio nocturno
Da sala escura,
Vai procurando sentido
Na torrente de palavras!
E a minha alma,
Que sabe sempre
O sentido!
Mentiria,
Porque conheço demasiado bem
O prazer culpado
De querer escrever
Só mais uma palavra,
Só mais uma letra,
Só mais uma vírgula,
Apenas para saborear
A tinta no papel.
27/02/10
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