03/03/2010

Poeta Sem Palavras

Gostaria de dizer
Que sou poeta
Sem palavras.

Que sou como ave
Que voa
Por sobrevivência,
Por instinto.

Mas mentiria.

Mentiria,
Porque conheço bem
O prazer secreto
Do bico da caneta,
Escorregando pelo azul
Da tinta,
A descrever as curvas
Do a, do g, do s.

A traçar os tês
E a pôr os pontos
Nos is.

E a minha mão,
Que corre com a caneta!
E a caneta,
Que parece já
Conhecer o caminho!

Como se as palavras
Já estivessem impressas,
E eu fosse apenas
Colori-las.

E a minha boca,
Que, no silêncio nocturno
Da sala escura,
Vai procurando sentido
Na torrente de palavras!

E a minha alma,
Que sabe sempre
O sentido!

Mentiria,
Porque conheço demasiado bem
O prazer culpado
De querer escrever
Só mais uma palavra,
Só mais uma letra,
Só mais uma vírgula,

Apenas para saborear
A tinta no papel.

27/02/10

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